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A alegria e a fé, suportes de cada dia

Maria de Lourdes
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08 Janeiro 2017

Chamo-me Maria de Lourdes. Sou Missionária Xaveriana na República Democrática do Congo, especificamente a Bukavu – sul do Kivu.

Cheguei aqui já faz um ano para estudar a língua local, o kiswahili.

Também comecei, junto com as jovens da casa de formação, a acompanhar um grupo da Infância missionária, que se reune aqui na nossa casa, todo sábado. Os encontros são sempre em kiswahili, porque as crianças que não frequentam ainda a escola não falam francês.

Temos um grupo grande e fiel. Durante nossos encontros, procuramos sempre ser próximos de nossas crianças perguntando como vai a família, a escola, o bairro, etc... Ou seja, buscamos conhecer um pouco a realidade que as cerca. Procuramos sensibilizá-las para outras realidades do mundo e animá-las missionariamente. Em um desses sábados, convidamos as crianças para fazerem um sacrifício trazendo dinheiro e, junto, uma oração para as crianças que mais precisam.

No sábado seguinte, elas trouxeram como combinado, e cada uma ofertou e fez a sua oração. De todas as orações feitas, uma me tocou profundamente. Foi de uma menina de uma área bem pobre aqui de Bukavu. Ela ofertou 50 fran. Era tudo o que ela tinha. Na oração, ela dizia que dava aquele dinheiro para ajudar as crianças que passam fome no mundo, crianças que precisam mais do que ela (sendo que ela precisa também).

A oferta dessa menina foi muito significativa, pois ela deu tudo o que ela tinha para viver. Aquela criança me encheu de ternura, pois nós conhecemos a realidade de pobreza que as cerca.

Próximo ao Natal, fizemos o apostolado em uma parte bem pobre do nosso bairro que se chama Credi. Reunimos roupas, sapatos e alimentos para partilhar com algumas famílias necessitadas, especialmente com os idosos viúvos que vivem sós e esquecidos.

As crianças responderam positivamente ao compromisso. Elas organizaram tudo e com simplicidade, alegria e entusiasmo entregaram às famílias e, no final de cada visita, rezávamos juntos.

Durante esse tempo de encontro com as crianças da IAM, vejo nelas o desejo de ajudar o próximo, a generosidade que se faz presente por meio do pouco partilhado com aqueles que não têm nada. As crianças são verdadeiramente um terreno fértil em que o Evangelho encontra lugar, e a simplicidade, a abertura para a partilha encontram nelas as portas abertas.

Em maio, formos rezar o terço missionário na Rádio Maria Preparamos as crianças para fazerem tudo, da leitura aos cantos. Foi um momento magnífico porque, a partir da bula sobre o ano da misericórdia do Papa Francisco, elas rezaram pelas crianças dos cinco continentes, pelas realidade de dor e sofrimento que as aflige pelo mundo, realidade essa em que se fazem urgentes atitudes de misericórdia para com as mais abandonadas, sofridas e marcadas pelas guerras dos adultos.

Eu admiro muito as crianças congolesas porque o Congo é um país marcado por guerras e violências cotidianas, em que os direitos de viver com dignidade e com segurança são negados a uma enorme parcela da população, em que as crianças são as mais atingidas e as que mais sofrem. Elas têm uma capacidade enorme de suportar e de superar as situações mais exigentes que possamos imaginar.

O sorriso as acompanha. A alegria e a fé são o seu suporte de cada dia.

Que Deus sempre abençoe, proteja e ilumine nossas crianças congolesas e que, a partir da semente plantada, elas possam construir um país mais bonito e livre de toda a violência contra a dignidade da pessoa humana, no qual todos possam viver em paz.