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Quem é perdoado é capaz de perdoar

Elizabete Ferreira
587
06 Janeiro 2017

Neste ano da misericórdia, a Igreja da Tailândia promoveu um grande encontro dos jovens católicos, do qual participaram jovens de toda a Tailândia e de outros 5 países vizinhos.

Aqui no norte da Tailândia(Naan), onde estamos trabalhando há menos de dois anos, os cristãos são poucos, e os jovens católicos são em menor número ainda.

Podemos contá-los no dedo. Assim, a gente convidou jovens budistas para participarem. Com um grupo de 12, fomos a Chiang Mai, onde se realizaria o encontro.

Um dos temas propostos no encontro era a Parábola do filho pródigo. O bispo que explicou a parábola enfatizou a volta do filho à casa do Pai, do Pai misericordioso. Até aqui tudo bem! Entretanto, mais tarde, onde era organizada a noite de oração de Teize e as confissões, sem que eu esperasse, duas jovens budistas (Na e Min) do meu grupo vieram me expressar o desejo de confessar-se. Eu, canonicamente, respondi que era uma coisa muito bonita elas sentirem aquele desejo e que,  certamente, Deus as havia inspirado. Expliquei que elas poderiam fazer uma oração pessoal e pedir o perdão de Deus, etc… mas não poderiam ir lá com o padre se confessar, porque ainda não tinham recebido o batismo, sacramento de ingresso na vida cristã… 

Sinceramente, essas jovens (18-19 anos) me colocaram em crise. Senti-me como um obstáculo entre elas e aquilo que o Senhor tinha colocado nos seus corações. Passada aquela noite, comentei o fato a uma Irmã thailandesa, que me disse: “Por que você não as deixou encontrar-se com o padre?” A sua resposta me colocou ainda mais em crise e em culpa. Depois da bronca, a Irmã disse: “Vá perguntar para elas se ainda desejam “confessar-se” … que eu encontrarei um sacerdote para elas.” Consegui finalmente falar com as jovens depois de dois dias, na noite de encerramento do encontro. Assim, no meio da festa, perguntei para elas se ainda desejavam conversar com o padre. As jovens, com grande alegria, responderam: “Sim”.

Havia três sacerdotes disponíveis para a “confissão”: o bispo que tinha explicado a Parábola do filho pródigo e outros 2 sacerdotes. Sem pensar duas vezes, responderam: o bispo. Naturalmente, essas jovens não sabiam o significado das palavras bispo, padre, papa… mas elas sabiam que aquele homem que havia explicado a Parábola do filho pródigo (foi a primeira vez que escutaram a parábola)  era a ponte que as levaria ao Pai; elas retornariam à casa do Pai misericordioso. Deus, através dessa parábola, tocou profundamente os seus corações.

Não importava se aquele homem com quem falariam era um padre, bispo ou papa. O importante era o fato de ele representar um instrumento de Deus para que elas pudessem receber aquele abraço do Pai cheio de misericórdia.  Deus só com uma palavra, a Sua Palavra, saltou todos os degraus com os quais eu estava acostumada. Aquelas jovens budistas, esse Deus que é impossível “enquadrar”, deram-me uma grande lição.

Essas jovens viram aquilo que eu também deveria  ver quando vou confessar-me: não importa quem está lá; o que importa é que ele é um instrumento de Deus, que me dá a possibilidade de retornar a casa, de receber aquele abraço forte de um Pai, de um Pai misericordioso. E a lição não acabou por aí. Depois de alguns meses, em que parecia que essa experiência já tinha caído no esquecimento… em um dos encontros de jovens no vilarejo onde moram (Na e Min), eu perguntei qual era a maior graça que sentimos na nossa vida que recebemos de Deus? E o que nós fazemos com essa graça, esse dom?

Min levantou a mão pedindo para poder partilhar a sua resposta e disse: “A graça, o dom maior que eu recebi de Deus foi o seu perdão. E o que eu faço ou procuro fazer cada dia com esse dom é partilhar com os outros… Deus me perdoou e por isso eu procuro perdoar!”

As palavras de Min revelam uma verdade muito profunda: somente quem realmente teve a experiência de ser perdoado é capaz de perdoar. Somente quem teve a experiência de ser amado é capaz de amar. Essas jovens tiveram essa experiência e são testemunhas. Testemunham também que a misericórdia de Deus é sem limites e sem limites é o seu desejo de entrar e fazer a sua morada nos nossos corações, não apenas nos nossos corações, mas também nos corações dos budistas, animistas, mulçumanos… de todos. 

“Eu te louvo ó pai, que revelaste essas coisas não aos sábios e entendidos, mas aos pequenos e humildes.”