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No sofrimento, uma relação de confiança

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09 Fevereiro 2024

No dia 11 de fevereiro, memória litúrgica da Bem-Aventurada Virgem Maria de Lourdes, será comemorado o XXXII Dia Mundial do Doente, instituído pelo Papa João Paulo II em 1993, apenas um ano depois de ele ter sido diagnosticada com a doença de Parkinson. O Papa escolheu este aniversário porque «Lourdes é um dos santuários marianos mais amados pelo povo cristão, é lugar e símbolo de esperança e de graça».

No amor, Deus pensou no homem, criou-o para ser feliz, mas não livre de dificuldades, dores e doenças. A vida humana, apesar de ser um dom maravilhoso, é acompanhada de todo tipo de sofrimento. Hoje, mais do que nunca, o mundo (com as guerras a espalhar-se), a sociedade e muitas das nossas relações estão doentes.

Qualquer tipo de doença, física, mental, psicológica ou espiritual, faz parte da existência humana. Quando a vivenciamos, nos faz sentir toda a nossa fragilidade e vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, a necessidade inata dos outros. Emerge a nossa condição de criatura e experimentamos claramente a nossa dependência dos outros e de Deus. Quando estamos doentes, de facto, a incerteza, o medo e por vezes o desânimo, invadem a nossa mente e o nosso coração; encontramo-nos numa situação de desamparo, porque a nossa saúde não depende apenas da nossa vontade, das nossas forças e capacidades ou da nossa “preocupação” (cf. Mt 6,27). É então que percebemos que não somos onipotentes.

A doença impõe uma questão de sentido, que na fé se dirige a Deus: uma questão que procura um novo sentido e uma nova direção para a existência, e que às vezes pode não encontrar resposta imediata. Os mesmos amigos e familiares nem sempre conseguem ajudar-nos nesta cansativa busca ou nós próprios não estamos preparados, ou dispostos a acolher a ajuda deles.

Um exemplo disso é a figura bíblica de Jó. Sua esposa e amigos não conseguem acompanhá-lo em seu infortúnio, pelo contrário, o acusam, amplificando sua solidão e confusão. Jó cai num estado de abandono e incompreensão. Mas precisamente através desta extrema fragilidade, a certa altura, rejeitando toda a hipocrisia e escolhendo o caminho da sinceridade consigo mesmo, para com Deus e para com os outros, ele faz com que o seu grito insistente chegue a Deus, que no final responde, abrindo um novo horizonte. Confirma-lhe que o seu sofrimento não é um castigo ou punição, nem sequer é um estado de distanciamento de Deus ou um sinal da sua indiferença. Assim, do coração ferido e curado de Jó, surge aquela declaração apaixonada e comovente ao Senhor: “Eu só te conheci por ouvir dizer, mas agora os meus olhos te viram” (42,5). É a experiência que muitas pessoas têm de Deus através da doença.

Só em Cristo e com Cristo se pode viver a própria condição numa perspectiva de fé: «Não é evitar o sofrimento, escapar da dor, que cura o homem, mas a capacidade de aceitar a tribulação e de amadurecer nela, de encontrar sentido pela união com Cristo, que sofreu com amor infinito» (Enc. Spe salvi, 37).

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Na doença, vivida na fé, faz-se a experiência do Senhor e dos irmãos. Quando nos sentimos como o homem da parábola (cf. Lc 10, 29-37), meio morto à beira do caminho, é ali, no momento de extrema fraqueza, que o Senhor e os irmãos, como o bom Samaritano, aproxime-se, eles nos recolhem, nos tratam, cuidam de nós. Para nos são aquela mão amiga que nos agarra, nos acompanha e não nos deixa sozinhos. Experimentamos assim o amor misericordioso de Deus, a fraternidade, a solidariedade e a proximidade como um bálsamo precioso, que dá apoio e consolação. Então é possível viver a doença com confiança em Deus e na aceitação serena da própria condição.

É assim que várias pessoas a quem levo a Comunhão lidam com as doenças. Quando chego, seus rostos se iluminam; vamos conversar, vamos orar; eles me transmitem paz e serenidade. Com o passar do tempo, domingo após domingo, sinto que se cria uma familiaridade, cresce uma relação de fraternidade e comunhão. Aqui a doença ganha rosto e nome: irmão.

Como Maria no Calvário, onde estava a cruz do seu Filho, aproximemo-nos das cruzes da dor e da solidão de tantos irmãos e irmãs para partilhar o seu sofrimento, dar-lhes força e coragem. Que Maria, «Saúde dos enfermos», «Mãe dos vivos» e «Mãe da consolação», seja o nosso apoio e a nossa esperança. “Que Ela aumente a nossa sensibilidade e dedicação para com aqueles que estão em prova, juntamente com a expectativa confiante do dia luminoso da nossa salvação, quando toda lágrima será secada para sempre (cf. Is 25, 8). Que possamos desfrutar a partir de agora das primícias daquele dia naquela alegria transbordante, mesmo no meio de todas as tribulações (ver 2 Cor 7, 4), que, prometida por Cristo, ninguém nos pode tirar. (ver João 16, 22)”. (Papa João Paulo II, 1º Dia Mundial do Doente, 1993).

Cecilia Zafferri

Originaria de Parma, Italia. Tiene la graduación en Ciencia y Tecnología Alimenticia y una maestría en Desarrollo alimenticio en la edad de la evolución humana. Es Misionerade María Xaveriana desde el 2007. Desde el 2014 desempeña la misión en México; estuvo tres años en Guadalajara apoyando en la animación misionera y desde el 2017 se encuentra en la misión de Santa Cruz (Hidalgo) trabajando con los jóvenes, en la pastoral y colabora en el equipo de social-media de la Congregación.