O que é a vocação missionária?
Eu não sei dizer. Talvez aquela nostalgia de horizontes amplos que me pegava quando, pouco mais que adolescente, observava a copa do abeto destacar-se no céu do pôr-do-sol, no curto espaço do céu entre a minha casa e as outras. Aquela vontade de ir mais longe que me tomava em todas as coisas.
Ou talvez a inquietação que senti quando com outros jovens da minha cidade assistíamos a filmes sobre a situação do mundo, sobre as suas tragédias e as suas causas, que questionavam o nosso, o meu mundo ocidental... como uma urgência de restituição.
E assim uma vez no gramado, olhando o céu claro, tive a percepção de que Deus era algo lindo que merecia ser buscado por toda a minha vida. E o desejo de encontrar um sentido definitivo, uma escolha válida mesmo para além da eficiência física. Em suma, entregar a vida.
É esta a vocação missionária? Ir finalmente à África tão aguardada como numa lua de mel e querer ficar lá para sempre, mesmo sem retorno. O prazer de conhecer, de descobrir, a admiração de anos em construir relações com pessoas de outra história, cultura, língua...
A alegria do encontro, a resistência nas poucas coisas desagradáveis, o esforço, mas também a alegria de descobrir a língua, de começar a entender-se e a falar... e finalmente sentir-se em casa, mesmo que ainda nos sentindo hóspedes. A maravilha de ouvir outras visões de mundo contadas sem medo. A admiração de levantar as mãos entre os outros e rezar juntos o Pai Nosso.
A vocação missionária é como um grande amor que floresce dentro de você e nem você sabe explicar. Seus sonhos anteriores são superados por algo que nos agarra e leva mais o seu coração do que aqueles. Conhecer, compartilhar, oferecer e receber.
Na raiz de tudo você vai descobrindo aos poucos que existe um Deus em saída, a alegria que ele nos dá para compartilhar o seu amor sem limites, aquela esperança além de todos os horizontes, aquela certeza de sua presença que nos deixa confiantes. É o sonho de um mundo justo, recebendo dele todos os dias a força para acreditar nele.
É dessa misericórdia que sou a primeira a precisar. A África teve isso para mim e o meu agradecimento é tentar retribuir. Porque sem isto você não pode viver.
A vocação missionária é descobrir-se cada vez mais atrás dos próprios sonhos desde o início, mesmo com preconceitos, mesmo com erros, mas deixando-se arrastar para frente.
A vocação missionária é ser sempre habitada pela nostalgia dos lugares vazios, dos ausentes, dos não incluídos. É recusar qualquer pertencimento exclusivo a alguém, para pertencer com o mesmo coração ao estranho que hoje bate à minha porta.
A vocação missionária não é um trabalho seguido de aposentadoria, é uma condição de ser e é sempre válida, mesmo que estejamos pregados na cama. Porque é o coração que sai .
É descobrir depois de anos que você recebeu muito mais do que tentou dar, muito mais aprendeu do que tentou propôr.
A vocação missionária é uma lembrança de que somos uma única família humana, redimida e reunida por Jesus para a glória do Pai. É ver em cada ser humano um irmão, uma irmã por quem Cristo morreu, como diz Paulo aos Romanos. E não pensar no nosso paraíso com a ausência deles.