“Não é sobre ter todas pessoas do mundo pra si. É sobre saber que em algum lugar alguém zela por ti. É sobre cantar e poder escutar mais do que a própria voz. É sobre dançar na chuva de vida que cai sobre nós.
É saber se sentir infinito num universo tão vasto e bonito é saber sonhar. Então, fazer valer a pena cada verso daquele poema sobre acreditar. Não é sobre chegar no topo do mundo e saber que venceu. É sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu. É sobre ser abrigo e também ter morada em outros corações. E assim ter amigos contigo em todas as situações”.
Com a letra dessa música de Ana Carolina Vilela desejo manifestar meus sentimentos nesta nova etapa da minha vida missionária.
Meu nome é Lindomar, sou Missionária Xaveriana, paraense, morei 5 anos na Europa (Itália e França) e, 5 anos na África (Chade e Camarões), depois de 2 anos na Vila dos Cabanos (Barcarena – Pará) fui destinada neste mês de novembro para uma nova missão no Maranhão.
Tudo é graça, são novas experiências que serão somadas na minha vida, porém, não posso negar que cada mudança é também um corte que dói, não é fácil partir, se desmembrar, recomeçar. Cada partida me faz refletir sobre o que valeu à pena, o que marcou, o que construiu, o que foi semeado e o que foi cultivado, mas, também, o que foi destrutivo, o que fez mal e o que não é para repetir!
Graças à Deus o meu povo não me decepcionou nessa empreitada e me ajudou de forma surpreendente a superar as crises e os desafios desse momento. Aliás, eu acho que essa foi uma das tarefas essenciais dessa etapa da minha vida: reencontrar-me comigo mesma, com as minhas motivações primeiras, com a coragem de viver e testemunhar radicalmente o Evangelho até o fim.
Quero agradecer ao povo simples pela generosidade em partilhar sem medidas de esforços, agradeço à minha família por me aceitar na minha missão embora não consigam entender o mistério da minha vocação. Agradeço à minha comunidade da Vila dos Cabanos que soube deixar-me livre para que eu encontrasse o meu lugar naquele contexto e com discrição foram parceiras do Reino nesse pedaço de estrada que fizemos juntas.
Eu agradeço aos jovens, de maneira particular a Pastoral da Juventude que me transmitiu tanta energia positiva e a esperança de que a civilização do amor é possível, agradeço por resgatarem dentro de mim o gosto da utopia, da denúncia da injustiça e do anúncio do Evangelho da justiça, da fraternidade e da paz, apesar do contexto tão contraditório no qual vivemos.
Agradeço também a todas as lideranças: da catequese, das comunidades, dos movimentos... que me aceitaram e acolheram o que eu poderia contribuir, saibam que eu mais recebi e aprendi do que dei e ensinei!
O tempo foi curto, mas, cada vez mais constato que o mais importante é a intensidade do amor com o qual se vive cada momento, cada situação, cada oportunidade que a vida oferece. Viver cada dia como se fosse o último foi a experiência que eu tive. E assim, dois anos valeram por quatro! As pessoas esquecem o que falamos, mas, não esquecem como as tratamos!
Não realizei projetos, não dei grandes formações, não coordenei nada, mesmo assim, tantas pessoas agradeceram-me publicamente pela amizade, pela minha escuta e disponibilidade para ir ao encontro, pelo incentivo e encorajamento em diversas ocasiões. Agradeceram-me também pelo testemunho de vida e pelo ardor missionário, afirmaram-me que embora não saiba, meu jeito cativador contagiou vários jovens para a Igreja. E, acima de tudo, agradeceram-me pela luz de Cristo que me ilumina e é farol para eles.
Justamente no momento em que pensava que não iria fazer muita falta, foi aí que fui largamente surpreendida. Foi com muito orgulho e emoção que o meu povo depois de me cobrir de tanto afeto enviou-me para águas mais profundas com a promessa de me acompanhar e contribuir com esta Missão !
Só tenho a agradecer à Deus por tantas expressões de carinho, respeito e confiança depositados em mim. Tudo seja em prol da construção do Reino da justiça e do amor!
Lindomar Teixeira de Souza.
