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Construindo um corredor de encontros

Antonietta Negretto
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03 Outubro 2017

Antonietta Negretto é missionária xaveriana. Cheguei no Brasil em fevereiro de 1969 e no Pará em 1974. Em junho de 1977, saí de Acará e cheguei a Abaetetuba, para ocupar o serviço que até então realizava a irmã Antônia Rota no centro médico Nossa Senhora da Conceição.

 Em junho de 2017, completei 40 anos de atividade de enfermagem a serviço das populações carentes e ribeirinhas do município de Abaetetuba. Nesses 40 anos, há muitas histórias para relatar. Semeadas em terra amazônica, regadas por suas abundantes águas nos deixamos desagregar, nos cuidados ao povo pobre, esquecido, doente no Centro Médico, acolhendo em nossas mãos muitas crianças nascendo, renovando a esperança a quem não tinha.

Lembro-me, de maneira especial, desse tempo, até 1984, quando funcionava a maternidade, Junto com a saudosa irmã Elisa Caspani, respeito dos inícios, também ela que por tantos anos trabalhou no Centro Médico seja como parteira seja como enfermeira lembrava que do atual Centro Médico só tinha a estrutura externa. Mesclando-nos às mulheres nos 'clubes de mães' ensinando com as artes femininas sua dignidade de mulher. Muitas crianças vieram à luz pelas nossas mãos. Hoje, com quase 80 anos, o que posso dizer?

As situações sociais mudaram, a população  e o território urbano aumentaram muito, mas os serviços públicos de saúde não acompanham as necessidades e o centro médico é sempre procurado preferencialmente pelo fato de a população sentir acolhimento e esforço de solucionar o que o povo espera. Acredito que, em todos estes anos, com o testemunho das várias irmãs que aqui trabalharam, tenhamos imprimido um selo de marca registrada que nos diferencia, pois o povo o manifesta com espontaneidade em várias circustâncias, sobretudo nos momentos economicamente difíceis.

Qual é hoje o meu papel no centro médico? Brincando, digo que sou "emérita", pois não posso exercer minha função, atender como antes. Estou a serviço daquilo que é necessário no dia a dia, sobretudo mantendo a farmácia em ordem. Os médicos locais e amigos nos enviam amostras grátis dos remédios. Eu as reúno, seleciono-as,  ect. Há pessoas, de maneira especial as mais idosas, que fazem questão de ser atendidas por mim e eu estou disponível. Há muitos relatos para escutar e procuro ser um ombro amigo.Tenho consciência de que hoje o cumprimento de meu papel não é mais em uma sala de atendimento, mas em um “corredor de encontro” , em que existe disponibilidade, na medida do possìvel, para o que for necessário.

Agradeço a Deus pela graça de ter pisado por tantos anos esses corredores a serviço da missão e peço misericórdia por aquilo que não soube fazer melhor.